terça-feira, 5 de abril de 2011

8. A Missão Espiritual do Oficial de Justiça

No mundo material, transitório, podemos pensar no juridiquês, que somos o “longa manus”, que tornamos realidade as ordens judiciais, etc. Que viramos oficiais de justiça por alguns acasos ou escolhas momentâneas.
Mas em uma compreensão espiritual, que transcenda o aqui e agora, é bem mais que isso.
Temos a profissão que precisamos para evoluir, da qual nos aproximamos por uma série de afinidades e por nosso livre arbítrio.
Evoluímos quando aprendemos, e podemos  aprender  com nossa profissão no convívio com os outros (principalmente os destinatários das ordens judiciais) e no vasto tempo em que estamos sozinhos (certificando, organizando os mandados, dirigindo, caminhando, decidindo os procedimentos...). Neste tempo sozinho nos deteremos mais tarde.
Convivendo, podemos aprender com as mazelas e sofrimentos humanos;  com a felicidade da concretização da justiça pelas nossas mãos; com as injustiças de um judiciário imperfeito;  a  controlar a ansiedade; a acalmar pessoas nervosas; a desenvolver a fé e a  coragem nas adversidades; a praticar a caridade de ouvir; a aceitar a diferença;  a livrar-nos dos preconceitos sociais; a desenvolver a intuição, etc.
Mas, como toda a atividade humana tem um fim evolutivo, para quem a pratica e para o outro, cremos que, PRINCIPALMENTE, temos uma missão ligada a praticar a firmeza e a impor limites.
Sermos firmes e impormos limites, além de aprendizado para nós, talvez seja o que mais ensinamos para as pessoas que encontramos em função dos mandados. É muito difícil ser oficial de justiça sem desenvolver a habilidade de contrariar, de dizer não, de cumprir o que nos mandaram e que contraria os interesses do outro.
Lidamos com o sofrimento humano. Mais que isso, impomos o sofrimento a outros seres humanos. Algozes ou professores? Há uma linha tênue, que cruzamos quando compreendemos o significado espiritual do sofrimento enquanto aprendizado.
O que aprende quem é injustiçado? Ou o empresário que perde os bens de sua empresa? Ou quem perde o carro da família? E quem tem retirada a guarda de um filho? E quem é despejado?
O sofrimento é sempre resultado de nosso livre arbítrio. Esta é a lei de causa e efeito, presente em toda a natureza e que não excepciona os atos humanos. Este plantar e colher ultrapassa as fronteiras do útero e do túmulo, num continuum de aprendizado que visa a evolução da humanidade.
As causas presentes de sofrimentos vemos facilmente, mesmo que quem receba o ato judicial pareça injustiçado, coitadinho, vítima.  Fez uma boa gestão? Resolveu conflitos ou os agravou? Respeitou e ser fez respeitar por fornecedores, clientes, trabalhadores, pelo estado, os sócios, os familiares? No processo judicial, defendeu-se adequadamente, procurou a conciliação, acompanhou o processo, cobrou do advogado?
Tem então o oficial justiça a função espiritual de ensinar-lhe, pelo sofrimento que lhe impõe, que precisa tratar os outros como gostaria de ser tratado, respeitar para ser respeitado, que conciliar é melhor que vingar, que prevenir e evitar conflitos é amar a si mesmo. Que não somos o que temos,  que tudo o que temos é transitório, que fatalmente perderemos os bens materiais que nos foram “emprestados” como prova,  seja em vida ou na desencarnação (morte).
Daremos a “aula” da firmeza e do limite aos nossos “alunos”. Todos os dias, durante toda nossa vida profissional, para diversos alunos, exatamente como fazem os professores. Como os alunos de verdade, alguns aprenderão rapidamente, outros depois de muitas aulas. Outros passarão toda a vida recebendo nossas lições, parecendo que não aprendem nada. Mas, de novo  como os alunos de verdade, estão acumulando conhecimento. Algum dia, terão o "click" e nosso esforço nunca terá sido em vão. Todos aprenderemos, mais cedo ou mais tarde, pelo amor ou pela dor.
Em uma das traduções da bíblia, há uma referência ao oficial de justiça em Mateus, 5:25. Vi por acaso quando folheei em um hospital. Diz mais ou menos:
Acerta-te com teu inimigo enquanto ainda estás no caminho com ele, para que ele não reclame ao juiz e o juiz mande o oficial de justiça te prender.  
Declara, desde cerca de 2 mil anos atrás, a nossa missão de educadores pela firmeza e pelo limite na lei de causa e efeito, que se harmoniza com o conceito atual da missão do judiciário como pacificador da sociedade, e não como vingador oficial. Um tem a alma do professor, outro a do algoz.

Como contribuição, a mensagem “Pedra no Caminho” (http://searaespirita.com/audio/momento/a_pedra_no_caminho.mp3 )
Paz e Luz! Beto Vasquez

3 comentários:

  1. Caro Colega Beto Vasquez, achei belíssimo o texto: A MISSÃO ESPIRITUAL DO OFICIAL DE JUSTIÇA.
    Tomei a liberdade de publicá-lo em MeirinhoMor.Of (http://meirinhomor.blogspot.com/)

    RUI RICARDO RAMOS.

    ResponderExcluir
  2. Beto, como percebi, acho, que você comunga dos ditames da Ciência Espírita Kardecista, eu também!
    Sugiro que frequente, também, outro blog:
    BLOG-JORNAL O CAMPINEIRO
    http://rrsomar-blogdorui.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  3. Obrigado pelo apoio, Rui. Tenho o seu blog na minha lista também. Gostei do texto dos "Humanos Direitos", retrata bem como tratamos alguns como coitadinhos e esquecemos que o sofrimento permeia a todos, independente de classe social.
    Beto

    ResponderExcluir