quinta-feira, 28 de abril de 2011

9. Somos também a mão das injustiças?

Muitas vezes precisamos cumprir mandados notoriamente injustos, ou que, mesmo tecnicamente perfeitos, nosso “feeling” nos leva a esta conclusão. Também podemos ter a sensação de injustiça ao sabermos que o réu “safou-se”.
Não, ninguém  sofre injustamente, mesmo que pareça. A injustiça de hoje é a colheita do ontem. 
Ontem, movimentamos o judiciário por vingança. Hoje, colhemos os frutos de um processo por motivação emocional e vingativa.
 Ontem, deixamos de reparar um erro por falta de provas contra nós. Hoje, provas injustas nos alcançam.
 Ontem, escusamo-nos de dar  nosso testemunho em favor da justiça. Hoje, testemunhas calam e a verdade não chega ao processo.
Ontem, compramos favores para escaparmos à justiça dos homens. Hoje, sofremos como vítimas da corrupção do sistema.
Ontem, deixamos nossos ex-cônjuges ao abando financeiro e moral, por ganância ou vingança. Hoje, recebemos uma decisão injusta em uma vara de família.
Ontem, deixamos dezenas de empregados ao desemparo. Hoje, nos indignamos com as ações trabalhistas que consideramos injustas.
O questionamento do porquê da  injustiça em um processo judicial, no cumprimento de um mandado,   é o mesmo que fazemos quando, por exemplo,  vemos um bebê que nasce com alguma deficiência. “Por que, se ele é tão inocente e nada fez de mal?” Causas anteriores do sofrimento humano. Ou a extensão da lei de causa e efeito para nossa anterioridade espiritual.
Criamos dívidas e inimigos, prejudicamos, desrespeitamos, a nós mesmos e aos outros. O sofrimento é  maneira que a justiça natural, ou a Justiça Divina, usa para que evoluamos.  Assim,  aprendemos a não fazer aos outros o que não queremos para nós, aprendemos  a amar e sermos amados, a respeitar e merecer o respeito alheio.
Não, não é Deus que nos pune, somos nós que atraímos o aprendizado que necessitamos.  Às vezes, deliberadamente escolhemos nossas provações, aquilo que precisamos para evoluir, após um arrependimento sincero e um forte desejo de reparar e aprender. Colheremos amanhã o que plantarmos hoje.
Mas isto não deve tornar o Oficial de Justiça frio, ou levar-nos ao pensamento de que “todos merecem”.  Não devemos impor um sofrimento maior que o necessário, sob pena de também endividarmo-nos. Nossa expressão facial, o tom de nossa voz, uma palavra de compreensão, podem ser calmantes que facilitam o aprendizado que os sofredores da justiça estão submetidos.
Quantas vezes, fomos as únicas pessoas a ouvir o destinatário da ordem judicial, a aplicar a terapia da palavra?
Quantas vezes  o simples “eu entendo seu sofrimento” muda o cenário mental dos nossos “alunos” e cumprimos o mandado em paz?
Quantas vezes incitamos ao entendimento e à conciliação, a que nossos “alunos” virem a página pelo esquecimento das ofensas e das injustiças?
Sim, somos a “longa manus” da justiça e da injustiça, do perdão e da vingança, do amor e do ódio.
Mas somos principalmente a “longa manus” do aprendizado.
 Nosso êxito no cumprimento do mandado é muito mais do que um “positivo” no livro de cargas e no sistema. É o êxito do professor que, dando o limite amoroso de quem está a servir, sabe que sua aula e sua firmeza são  essenciais para a evolução do aluno, tanto quanto sua compreensão.
Somo instrumentos da evolução humana. A cada dia, a cada mandado.

Paz e Luz!
Beto Vasquez

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